Marx e a Escravidão: Parte 1

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23 min readSep 21, 2021

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Por Jonh Bellamy Foster, Hannah Holleman, e Brett Clark. Texto publicado em 01 de julho de 2020 em Monthly Review.

Traduzido por Lucas Chagas. Revisado por Débora Cunha e Rebecca Borges.

A Guerra Civil nos Estados Unidos, por Karl Marx e Friedrich Engels.

A ascensão à proeminência das análises do capitalismo racial, com base particularmente no livro Black Marxism (Marxismo Negro) de Cedric Robinson, junto ao trabalho de figuras anteriores como W. E. B. Du Bois e Oliver Cromwell Cox, representa um avanço na teoria marxiana.1 Isso foi acompanhado necessariamente por uma crítica das análises marxianas anteriores, que frequentemente ignoravam ou minimizavam a relação da escravidão com o capitalismo.2 No entanto, nos últimos anos, essas críticas ao tratamento dado pelos marxistas ortodoxos à escravidão foram estendidas, de forma muito mais problemática, à obra do próprio Karl Marx, o qual, às vezes, dizem ter sistematicamente contornado e minimizado a questão da importância do trabalho escravo para o desenvolvimento capitalista, vendo a questão da escravidão como amplamente confinada à era mercantilista da “assim chamada acumulação primitiva” e ao apogeu do tráfico transatlântico de escravos. A escravidão continuou a existir, sugere-se, mas Marx a retirou de sua análise do próprio capital.3

Assim, a historiadora Stephanie Smallwood, autora de Saltwater Slavery [Escravidão das águas marinhas], escreveu que “faz muito tempo que descartamos o mal-entendido de Marx sobre a escravidão” como se fosse um “erro” histórico, que o levou a “manter a escravidão do Novo Mundo separada do capitalismo”.4 Igualmente, Walter Johnson, historiador da escravidão nos Estados Unidos e autor do River of Dark Dreams [Rio dos sonhos escuros], afirma em seu influente artigo “The Pedestal and the Veil: Rethinking the Capitalism / Slavery Question” [O Pedestal e o véu: repensando o capitalismo e a escravidão] que Marx “simplesmente evitou” toda a “questão da escravidão” em sua crítica do capital, aderindo ao argumento de que a “exclusão fundamental da escravidão do enquadramento da economia política” que caracterízou o trabalho na economia liberal clássica.5

Ainda assim, Marx não é facilmente deixado de lado em qualquer tentativa séria de desenvolver uma análise do capitalismo racial. Assim, depois de argumentar que Marx excluiu amplamente a questão da escravidão em O Capital, Johnson indica que ainda “temos muito a aprender com o que Marx tinha a nos dizer sobre o trabalho dos capitalistas enquanto tentamos diagramar as interconexões históricas e as práticas diárias da economia global dos séculos XVIII e XIX”.6 Mas essa admissão de sua parte levanta a questão do quão revelador seria um olhar mais abrangentemente para a obra de Marx, levando em conta todo o seu método de análise histórico-materialista e a estrutura subjacente da sua crítica à economia política. Tal método envolve ir além de destacar algumas passagens selecionadas no primeiro volume de O Capital e colocá-las em um contexto muito mais amplo e profundo. Na verdade, argumentamos a seguir que Marx ainda tem muito a contribuir para a análise da escravidão, e especialmente do “capitalismo escravagista”.7

Vale a pena notar que o tratamento de Marx da escravidão ou dos sistemas de trabalho escravo é amplo e profundo, abrangendo, em detalhes variados, elementos como a escravidão grega e romana; a questão do modo de produção escravo; escravidão por dívida; a escravidão dos americanos nativos; escravidão infantil; escravidão doméstica; escravidão na Inglaterra sob Eduardo VI; escravidão nas Índias Orientais Holandesas; o comércio transatlântico de escravos; a ascensão da escravidão como um “segundo tipo de colonialismo”; tortura sob escravidão; a escravidão como base da Revolução Industrial; rebeliões de escravos; a Revolução Haitiana; o “Slave Power” (Poder Escravista) no Sul dos EUA; a decisão Dred Scott; a guerra na fronteira Kansas-Missouri em 1854–56; John Brown; Harriet Beecher Stowe; abolicionismo; a luta revolucionária de soldados negros libertados na Guerra Civil; e as complexas relações históricas entre trabalho escravo e trabalho assalariado. A análise de Marx do capitalismo escravocrata no Sul dos EUA antes da guerra examinou a capitalização da mais-valia antecipada gerada pelo trabalho escravo como a base de um sistema distinto de acumulação, incluindo seu papel no desenvolvimento da gestão capitalista. Ele explorou a destruição ecológica e o expansionismo embutidos na própria natureza da “instituição peculiar”.8

Em sua organização política dentro do movimento trabalhista britânico, Marx desempenhou um papel fundamental, como testemunhou Henry Adams, na mobilização dos trabalhadores para evitar que o país entrasse na Guerra Civil dos Estados Unidos ao lado dos Confederados.9 Sendo a figura principal na Associação Internacional de Trabalhadores, ele se correspondeu com os presidentes Abraham Lincoln e Andrew Johnson. Em seu papel como correspondente do New York Daily Tribune e mais tarde do Die Presse em Viena, ele apoiou o movimento abolicionista revolucionário nos Estados Unidos e no Norte em sua guerra com o Sul escravagista, escrevendo mais de quarenta artigos de jornal publicados sobre escravidão e a Guerra Civil dos Estados Unidos em 1861 e 1862 (junto a vários outros que por não terem sido publicados, não sobreviveram). Nenhum outro grande pensador de sua época escreveu de forma tão variada sobre a escravidão levando em consideração todo a sua obra, e talvez nenhum, exceto Frederick Douglass, comentou tão profundamente a escravidão nos EUA. Como Roger Ransom e Richard Sutch observaram na frase de abertura de seu artigo clássico “Capitalists Without Capital” [Capitalistas sem Capital], “Karl Marx reconheceu a natureza capitalista da escravidão americana muito antes dos historiadores americanos”.10

A pesquisa de Marx sobre a escravidão foi extensa, indo além da economia política geral e incluindo as explorações no capitalismo, colonialismo e escravidão por meio de obras como: An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (1803) [Uma investigação sobre a política colonial das potências europeias], de Henry Brougham ; History of Java (1817) [História de Java], de Thomas Stamford Raffles; Traité de législation (1837) [Tratado sobre a legislação], de François-Charles-Louis Comte; Colonization and Christianity (1838) [Colonização e cristandade], de William Howitt; , The African Slave Trade and Its Remedy (1840) [O tráfico de escravos africanos e sua remediação], de Thomas Fowell Buxton; Letters on Colonization and Colonies (1841) [Cartas sobre a Colonização e as Colônias], de Herman Merivale; Notes on North America (1851) [Notas sobre a América do Norte], de J. F. W. Johnston; The Slave Trade, Domestic and Foreign (1853) [O comércio doméstico e extrangeiro de escravos], de Henry Carey; , A Journey in the Seaboard Slave States [Uma Jornada aos Estados Escravagistas nos Litorais], de Frederick Law Olmsted; With Remarks on the Economy [Com observações sobre a economia] (1856); e The Slave Power (1862) [O Poder Escravo], de J. E. Cairnes.11

Embora Marx nunca tenha escrito um tratado sobre a escravidão, a questão do trabalho escravo foi tecida em sua análise das formações sociais antigas e modernas, e estava inextricavelmente entrelaçada em sua abordagem sobre o trabalho assalariado. Os estudos de Marx da escravidão sob o capitalismo chegaram ao auge no final dos anos 1850 e início dos anos 60, quando ele estava simultaneamente considerando a escravidão, muitas vezes diariamente, engajando-se politicamente com a questão (inclusive ajudando a organizar reuniões da classe trabalhadora britânica em apoio ao Norte na Guerra Civil dos Estados Unidos), e escrevendo os manuscritos (The Economic Manuscript of 1861–1863 e The Economic Manuscript of 1864–1865) que seriam a base de O Capital. Marx começou a redação real do volume 1 de O Capital em janeiro/fevereiro de 1866, depois que o poder escravagista nos Estados Unidos já havia sido derrotado, uma vitória sobre a escravidão que é celebrada no prefácio dessa obra.12

O resultado foi a formação de uma compreensão única do capitalismo escravagista como uma variante do capitalismo e do colonialismo na obra de Marx. Na verdade, ele entendia o capitalismo escravagista como o produto de um segundo colonialismo, enraizado na economia baseada em plantations [grandes fazendas de cultivo]. Este segundo colonialismo, ele reconheceu, teve imensas implicações para o desenvolvimento capitalista. Em relação ao Sul antes da guerra, Marx escreveu, “onde prevalece a concepção capitalista, como nas plantações americanas”, a escravidão assume a forma da produção de “mais-valia… tomada como lucro” nas costas dos escravos.13

É claro que Marx estava ciente de que essas questões fundamentais não terminaram automaticamente quando o poder escravagista nos Estados Unidos fosse finalmente derrotado. Como Du Bois declarou no livro Black Reconstruction [Reconstrução Negra]: “Em setembro de 1865, outro discurso (desta vez para o povo americano como um todo) sobre a assinatura de Marx declarava corajosamente: ‘A injustiça contra uma fração de seu povo tendo sido seguida por tantas consequências terríveis, ponha um fim nisso. Declare seus concidadãos, de hoje em diante, livres e iguais, sem qualquer reserva. Se você recusar a eles os direitos dos cidadãos enquanto exige deles os deveres dos cidadãos, mais cedo ou mais tarde enfrentará uma nova luta que mais uma vez inundará seu país de sangue’.”14

O Pedestal e o Véu

Talvez a crítica mais incisiva à Marx sobre a escravidão nas últimas duas décadas seja “O Pedestal e o Véu” de Johnson, que aponta que na maioria dos relatos “a escravidão serve como um pano de fundo histórico não teorizado para a história do capitalismo, um passado não pensado (mesmo quando presente) para o inevitável surgimento do presente”.15 De acordo com Johnson, Marx foi particularmente responsável por direcionar a crítica da escravidão na direção errada a esse respeito. Em seu tratamento da escravidão em seu capítulo sobre “A Gênese do Capitalista Industrial” no primeiro volume de O Capital, Marx declarou: “Na verdade, a escravidão velada dos trabalhadores assalariados na Europa precisava da escravidão irrestrita do Novo Mundo como seu pedestal.” A maioria dos leitores da passagem de O Pedestal e o Véu, como Johnson indica, sem dúvida teriam visto isso como uma declaração da importância histórica da escravidão para o desenvolvimento do capitalismo. Virando isso de cabeça para baixo, no entanto, Johnson insiste que o significado real da metáfora de Marx era estrutural e espacial: que a escravidão nua e irrestrita em sua análise foi significativa apenas na medida em que apontou para a “escravidão velada” do trabalho assalariado, que então atingiu grande importância.16

A noção de que Marx poderia ter criado uma metáfora dialética destinada a destacar o significado histórico da escravidão direta como um elemento crucial no desenvolvimento capitalista, ao mesmo tempo que apontava, após o término da Guerra Civil dos Estados Unidos, a continuação da escravidão indireta do trabalho assalariado, simplesmente não é considerado no relato de Johnson. No entanto, o foco real de Marx na escravidão em si é bastante claro quando a passagem é lida no contexto. Assim, Marx anotou a declaração de O Pedestal e o Véu com uma citação de An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (Uma Investigação da Política Colonial das Potências Européias), de Brougham, indicando que “em 1790 havia nas Índias Ocidentais inglesas dez escravos para um homem livre, nas francesas, quatorze para um, e nas holandesas, vinte e três para um”.17 Na mesma página, Marx indicou que a dependência direta da Revolução Industrial britânica da escravidão do Novo Mundo podia ser vista no crescimento do número de navios negreiros:“ Em 1730, Liverpool empregou 15 navios no comércio de escravos; em 1751, 53; em 1760, 74; em 1770, 96; e em 1792, 132”. Nas dezenas de páginas anteriores a esta no mesmo capítulo, ele se referiu à “extirpação, escravidão e sepultamento em minas da população indígena” das Américas, “a conversão da África em uma reserva para a caça comercial de peles negras”, escravidão nas Índias Orientais Holandesas e nas Índias Ocidentais, e a comercialização da escravidão nos Estados Unidos.18

Dada a profundidade com que ele abordou a questão do comércio de escravos aqui, bem como em outras partes de sua análise, dificilmente se poderia dizer que Marx se referia à escravidão, como Johnson afirma, simplesmente para obter “efeito retórico” em uma crítica do trabalho assalariado.19 Uma afirmação que literal e figurativamente enfatizou como o capitalismo do trabalho assalariado se apoiava no capitalismo do trabalho escravo é invertida, na interpretação de Johnson, em sua cabeça coberta pelo véu. É como se o próprio pedestal fosse feito para representar, aos olhos de Marx, um mero pedestal e não as relações materiais. “O Pedestal e o Véu” de Johnson foi posteriormente citado por outros estudiosos na análise do capitalismo racial como evidência de que Marx rebaixou a realidade da escravidão do Novo Mundo.20

Dada a importância dessas questões, vale a pena considerar as origens clássicas da metáfora do pedestal e do véu. Marx, que foi um importante estudioso do pensamento grego e romano antigo, conhecia a obra de Plutarco de trás para a frente, incluindo Moralia, à qual ele se referiu em sua dissertação. Ele estava, portanto, bem familiarizado com a descrição de Plutarco da estátua de Ísis, deusa da natureza, que o antigo filósofo grego viu em Sais, Egito, com a famosa inscrição enigmática em seu pedestal: “Eu sou tudo o que foi, e é, e assim será, e meu manto [frequentemente traduzido como véu] nenhum mortal já descobriu”.21 No Iluminismo, tornou-se costume representar uma estátua de uma Ísis velada em um pedestal, com a representação do véu constituindo um símbolo da própria iluminação e a descoberta da natureza material. G. W. F. Hegel começou sua Filosofia da Natureza referindo-se ao escrito no pedestal da Ísis velada, argumentando contra a noção dos númenos inescrutáveis ​​de que o véu poderia ser rasgado para descobrir a realidade sensorial e o verdadeiro significado da natureza necessários para o desenvolvimento da ideia absoluta.22

Ao referir-se à metáfora do pedestal e do véu, Marx estava, portanto, transformando uma metáfora conhecida por todas as pessoas educadas de seu tempo, usando-a para reafirmar a crítica materialista e enfatizar que toda “civilização” (ou a sociedade de classes), incluindo sua forma mais recente sob o capitalismo, foi construída sobre a escravidão. O trabalho assalariado sob o capitalismo, ou “escravidão velada”, simbolizada pela deusa africana Ísis, surgiu materialmente e dependia, para seus fundamentos materiais, da escravidão nua e crua formada pelo comércio transatlântico de escravos. Nada disso minimizou os horrores da escravidão ou sua importância histórica no desenvolvimento do capitalismo. Mais do que simplesmente um “efeito retórico” ou uma tentativa de diminuir o significado da escravidão propriamente dita, relegando-a a um pedestal, Marx estava enfatizando que a escravidão constituía a forma material sobre a qual o próprio proletariado industrial havia emergido, e que o legado da escravidão persistiria por uma longa era de reconstrução e luta de classes. Ela era, portanto, fundamental para a crítica do capital, que era tanto sobre o chicote quanto sobre os salários, tanto sobre as plantations quanto sobre a fábrica.23

A análise de Marx da escravidão evoluiu em estágios definidos da década de 1840 a 1860, passando de uma consideração na década de 1840 da dependência que o capitalismo tinha da escravidão, para uma noção de capitalismo escravagista na década de 1850 e para uma economia política da escravidão madura na década de 1860, nos anos da Guerra Civil dos Estados Unidos. No entanto, sua ênfase no que ele concebeu como o segundo colonialismo associado à economia dos plantations, que ele destacou ser parte integrante do desenvolvimento histórico do capitalismo, é contínua ao longo de sua análise. Como ele escreveu já em 1847 no Miséria da Filosofia: “A escravidão direta é tanto o pivô da indústria burguesa quanto a maquinaria, o sistema de crédito etc. Sem escravidão não há algodão; sem algodão você não tem indústria moderna. Foi a escravidão que deu às colônias seu valor; foram as colônias que criaram o comércio mundial, e é o comércio mundial que é a condição prévia para a indústria em grande escala. Assim, a escravidão é uma categoria econômica de maior importância”.24

Central para o tratamento de Marx da escravidão moderna era o reconhecimento da natureza absolutamente horripilante do capitalismo escravagista, que o tornava pior do que todas as outras formas de escravidão conhecidas na história. O “chicote” e a “permuta de carne humana” eram partes especialmente integrantes da exploração capitalista do Novo Mundo. 25 Marx explicou que a história da civilização assumiu suas formas mais “assustadoras” onde a escravidão foi combinada com o comercialismo (por exemplo, nas minas antigas de metais preciosos descritas por Diodorus Siculus).26 Esse era particularmente o caso onde o trabalho escravo estava inserido em “uma situação de produção capitalista; assim, por exemplo, os estados do sul da União Americana”.27

Uma preocupação crucial eram as altas taxas de mortalidade do trabalho escravo no sistema capitalista de plantations. Para Marx, a escravidão por sua própria natureza assumia a forma de violência contínua e o medo perpétuo da tortura e da morte prematura. Os escravos eram tanto os bens do capital quanto sua força trabalho. As regras de maximização do lucro na economia escravagista, quando havia um comércio de escravos ativo capaz de uma substituição muito rápida de bens móveis humanos, levaram à aplicação frequente de uma regra de sete anos, vista pelos fazendeiros como a vida média de seus escravos, em que seus cálculos de valor foram baseados. Os escravos eram tão sobrecarregados de trabalho na Jamaica e em outras colônias britânicas que suas vidas geralmente eram consumidas em sete anos. Para o capitalista escravagista, importava relativamente pouco se a rotatividade dos escravos, por causa do esgotamento prematuro de suas vidas de trabalho e de sua própria existência, ocorresse, contanto que eles fossem facilmente substituíveis. Além disso, na produção escravagista, era possível trabalhar os escravos com mais intensidade, com mais exploração, do que no caso do trabalho assalariado.28

Como Marx exclamou: “Se o excesso de trabalho se estender por um longo período, o trabalhador talvez preserve a si mesmo e, portanto, sua capacidade de trabalho por apenas 7 anos, em vez dos 20 ou 30 anos pelos quais ele poderia tê-la preservado.” No caso do trabalho escravo, tais condições prevaleciam, ao contrário até mesmo das formas mais extremas de trabalho livre remunerado. “Os escravos nos estados do sul da América do Norte tiveram que se esforçar para separar o algodão de sua semente, depois de terem trabalhado nos campos por 12 horas, [o que] reduziu sua expectativa de vida média para 7 anos”.29 Ele citou um artigo do Daily Telegraph de 1860, o qual condenava os plantadores dos estados da Virgínia e da Carolina, em que se perguntava: “o que se pode pensar de uma cidade que realiza uma audiência pública para requerer que o período de trabalho dos homens [escravos] seja reduzido para 18 horas por dia?”.30

Em uma condenação semelhante ao desprezo pelas vidas humanas, Marx observou que o envio dos chamados “coolies” chineses para as ilhas Chincha, na costa do Peru, para cavar guano na década de 1850, era uma condição ainda “pior do que a escravidão”. Enquanto seus contratos geralmente especificavam oito anos de trabalho, 100% dos garimpeiros não conseguiram viver até o fim de seus contratos. Como noticiou o jornal londrino Times em 1882: “Os horrores aos quais os coolies chineses foram expostos foram piores do que os piores excessos da escravidão americana. Em 1860, acreditava-se que nenhum dos… quatro mil coolies chineses que haviam sido embarcados para aquelas ilhas desde o início do comércio, em 1844, havia sobrevivido, todos aqueles que não morreram de exaustão se submetido voluntariamente à morte”.31

Tais condições de excesso de trabalho e a expectativa de vida drasticamente reduzida prevaleciam nas Índias Ocidentais antes da eliminação do comércio de escravos e, posteriormente, nas plantations escravagistas do Sul dos Estados Unidos, quando incorporadas de forma importante à economia capitalista mundial com o desenvolvimento da indústria do algodão e a Revolução Industrial na Grã-Bretanha.32 Como disse Marx, referindo-se tanto ao Sul dos Estados Unidos quanto às Índias Ocidentais,

Considerações de economia… uma vez que se pratica o comércio de escravos, tornam-se motivos para torturar ao máximo o trabalho do escravo; pois, quando seu lugar pode ser suprido imediatamente com reservas estrangeiras, a duração de sua vida torna-se uma questão de menos importância do que a sua produtividade enquanto esta durar. É, portanto, uma máxima da gestão de escravos, em países importadores de escravos [como os Estados Unidos antes da guerra — legalmente antes de 1808, ilegalmente depois], que a economia mais eficaz é aquela que tira dos meios humanos, no mais curto espaço de tempo, o máximo esforço de que este é capaz. É na cultura tropical, onde os lucros anuais geralmente equivalem a todo o capital das plantations, que a vida do negro é sacrificada da maneira mais negligente. Foi a agricultura das Índias Ocidentais, que durante séculos foi prolífica de fabulosas riquezas, que engolfou milhões da raça africana. É em Cuba, hoje, cujas receitas são calculadas em milhões, e cujos fazendeiros são príncipes, que vemos na classe servil a comida mais grosseira, a labuta mais exaustiva e incessante, e mesmo a destruição absoluta de uma parte de seus números todos os anos.33

Nesse sentido, a escravidão sob o capitalismo era muito mais brutal, na visão de Marx, do que qualquer coisa já vista na história humana. Como “a exportação de algodão tornou-se de interesse vital para aqueles estados [do sul dos Estados Unidos], o excesso de trabalho do negro, e às vezes o consumo dessa vida em sete anos de trabalho, tornou-se um fator em um sistema calculado e calculista. Já não se tratava de obter dele uma certa quantidade de produtos úteis [como nas formas anteriores e mais patriarcais de escravidão], mas antes da produção da própria mais-valia”.34

Marx estudou O Comércio de Escravos, Doméstico e Internacional (The Slave Trade, Domestic and Foreign), de Henry Charles Carey, que, depois de fornecer estatísticas detalhadas sobre a importação de escravos nas várias colônias britânicas das Índias Ocidentais, e suas taxas de natalidade e mortalidade, declarou que “…nos vemos forçados a concluir que a escravidão aqui foi acompanhada por uma destruição da vida quase sem paralelo na história de qualquer nação civilizada”.35 Como Marx observou, a taxa de mortalidade de escravos nas Índias Ocidentais era tão alta que a população escravizada realmente diminuiu em muitas áreas, apesar da importação em massa de escravos, dos quais “dois terços do número importado anualmente pereceram.”36

Essa “destruição absoluta” dos escravos, como disse Marx, não foi apenas uma consequência da escravidão, nas Índias Ocidentais e em partes da América Latina, mas foi acompanhada pelas mais desumanas torturas em cima do “chicote dos negociantes”. Assim, ele se referiu ao uso do “spanso bocko — uma das formas mais cruéis de punição… usada pelos colonos no Suriname”, conforme retratado por John Gabriel Stedmanna em Narrativa de uma expedição de cinco anos contra os negros revoltados do Suriname (Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam) e relatado por Comte em seu Tratado da Legislação(Traité de législation).37 Nas palavras de Marx, um escravo era “amarrado na tortura spanso bocko do Suriname, incapaz de mover as mãos ou os pés, ou qualquer outro de seus membros, tendo que suportar tudo o que a ele é feito.” Aqui ele citou Comte sobre a ousadia dos escravos sob tal tortura, apontando como eles “zombam de seus torturadores” e “zombam da impotência destes até mesmo para forçá-los a se humilhar, e suprimem todo ‘gemido’ e todo suspiro, contanto que a dor física os permitisse”. 38 Em várias partes de sua obra, Marx aludiu às revoltas e revoluções de escravos no Suriname, Haiti e Estados Unidos, e à existência de fugitivos que se uniram, determinados a resistir aos “horrores bárbaros da escravidão”.39 Marx também observou as revoltas pós-escravidão e a brutalidade colonial na Jamaica.40 Comentando a discussão de Howitt das barbáries do colonialismo e os relatos de Comte da tortura sob a escravidão nas Índias Ocidentais, Marx observou em O capital: “Isso precisa ser estudado em detalhes, para ver o que o burguês faz de si mesmo e do mundo quando ele pode modelar o mundo de acordo com sua própria imagem sem interreferência” como sob o colonialismo e a escravidão.41

Foi o rápido “consumo” dos escravos — como era referido pelos economistas políticos da época — que, na visão de Marx, tornou necessária a perpetuação do comércio mundial de escravos pelo maior tempo possível, se o sistema escravagista capitalista persistisse. Através de sua leitura do O Escravo Africano e Seu Remédio (The African Slave and Its Remedy), de Thomas Fowell Buxton, e de O Poder do Escravo (The Slave Power), de Jonh Cairnes, Marx estava bem ciente de que o comércio transatlântico de escravos continuou ilegalmente, mesmo com a abolição britânica do comércio de escravos em 1807 e a proibição do comércio pelos Estados Unidos em 1808. Ele citou a fala Stephen Douglas em 1859: “Durante o ano passado, mais negros foram importados da África do que em qualquer ano anterior, mesmo na época em que o comércio de escravos ainda era legal”.42 Além disso, nos Estados Unidos, enfatizou Marx, outra solução também havia surgido: a reprodução ativa de escravos nos estados fronteiriços como Virgínia e Kentucky, proporcionando trabalho escravo para o restante do sul. Como resultado, em meados da década de 1860, a expropriação absoluta de seres humanos por meio da escravidão permanecia o pedestal do sistema, a base sobre a qual surgiu a exploração velada do trabalho assalariado.

Notas

  1. Cedric J. Robinson, Black Marxism (Londres: Zed, 1983); W. E. B. Du Bois, Black Reconstruction in America, 1860–1880 (Nova Iorque: Atheneum, 1992); Oliver Cromwell Cox, Capitalism as a System (Nova Iorque: Monthly Review Press, 1964).
  2. A associação do marxismo com a visão de que a escravidão e o capitalismo no Novo Mundo representavam “dois sistemas [econômicos]” e a visão de que essa era a posição marxiana ortodóxica foi quase inteiramente devido a Eugene Genoveso, influente historiador marxista do escravagismo do Sul. Ver Eugene Genovese, The Political Economy of Slavery (Nova Iorque: Vintage, 1965), 17; Eugene D. Genovese e Elizabeth Fox Genovese, “The Slave Economies in Political Perspective,” Journal of American History 66, no. 1 (Junho 1979): 22. Essa mesma ênfase nos dois sistemas econômicos ou modos de produção nos Estados Unidos do século XIX, “escravidão nas plantations e capitalismo”, ainda pode ser encontrada em algumas análises. Por exemplo, Nick Nesbitt, “The Slave Machine,” Six Archipelagos, 9 de julho de 2019, 11–12. No entanto, como observa John Clegg, “antes de Genovese, a maioria dos escritores marxistas, e dos de influência marxista, seguiram Marx ao ver as plantations escravagistas como capitalistas”. John Clegg, “A Theory of Capitalist Slavery”, Journal of Historical Sociology 33, no. 1 (2020): 76.
  3. Karl Marx, O Capital, vol. 1 (Londres: Penguin, 1976), 871.
  4. Stephanie Smallwood, “What Slavery Tells Us About Marx”, Boston Review, Fevereiro 21, 2018; Stephanie Smallwood, Saltwater Slavery (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2008).
  5. Walter Johnson, “The Pedestal and the Veil,” Journal of the Early Republic 24 (2004): 299–308; Walter Johnson, River of Dark Dreams (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2013).
  6. Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 307.
  7. Sven Beckert e Seth Rothman, eds., Slavery’s Capitalism (Filadélfia: University of Pennsylvania Press, 2016).
  8. On “the second type of colonialism”, see Karl Marx, Theories of Surplus Value, part 2 (Moscow: Progress Publishers, 1971), 302–30. Sobre Harriet Beecher Stowe, “O Poder do Escravo”, a decisão de Dred Scott, a Guerra do Kansas, John Brown, a “instituição peculiar”, o abolicionismo e as lutas revolucionárias de trabalhadores negros libertos, ver Karl Marx e Friedrich Engels, The Civil War in the United States, ed. Andrew Zimmerman (Nova Iorque: International Publisher, 2016), 17, 19, 28, 30–31, 33, 43, 120, 124–27, 153–54, 165. Sobre tortura sob escravidão e a revolução haitiana, ver Karl Marx e Frederich Engels, Collected Works, vol. 5 (Nova Iorque: International Publishers, 1975), 302, 308, 388, 599. Sobre a escravidão inglesa sob o reinado de Eduardo VI e a escravidão dos nativos americanos, ver O Capital, vol. 1, 897, 915.
  9. Philip Foner, British Labor and the American Civil War (Nova Iorque: Holmes e Meier, 1981), 56–58.
  10. Roger Ransom e Richard Sutch, “Capitalists without Capital: The Burden of Slavery and the Impact of Emancipation”, Agricultural History 62, no. 3 (1988): 133.
  11. Henry Brougham, An Inquiry into the Colonial Policy of the European Powers (Edimburgo: E. Balfour, Manners e Miller, e Archibald Constable, 1803); Thomas Stamford Raffles, History of Java (Londres: John Murray, 1817); Thomas Powell Buxton, The African Slave Trade and Its Remedy (Londres: John Murray, 1840); Herman Merivale, Lectures on Colonization and Colonies (Londres: Muston Co., 1841); Henry C. Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign (Filadélfia: A. Hart, 1853); J. E. Cairnes, The Slave Power (Nova Iorque: Follett Foster and Co., 1862); François-Charles-Louis Comte, Traité de législation, ou exposition des lois générales suivant lesquelles les peuples prospèrent, dépérissent ou restent stationnaire, 3rd ed. (1827; repr. Bruxelas: Hauman, Cattoir et Comp, 1837). Há também indicações de que Marx tinha alguma familiaridade com o best-seller de John Gabriel Stedman, no século XVIII, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam (1796, gravada por William Blake), ao qual Comte se referiu. Ver também David Mercer Hart, Class, Slavery, and the Industrialist Theory of History in French Liberal Thought, 1814–1830: The Contribution of Charles Comte and Charles Dunoyer (dissertação de doutorado, King’s College, Cambridge, junho de 1993).
  12. Marx, O Capital, vol. 1, 93; Hal Draper, The Marx-Engels Chronicle (Nova Iorque: Schocken, 1985), 130–31, 295; Karl Marx, Marx’s Economic Manuscript of 1864–1865 (Boston: Brill, 2015). Em março de 1865, quando ele começava a escrever o volume um de O capital, Marx escreveu a Engels, “parece que está tudo certo com a Confederação”. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 158.
  13. Marx, O Capital, vol. 3 (Londres: Penguin, 1981), 940.
  14. W. E. B. Du Bois, Black Reconstruction in America, 1860–1880 (Nova Iorque: Atheneum, 1992), 354. Observe que esta foi a tradução do próprio Du Bois, que difere ligeiramente da tradução padrão. Ver também W. E. B. Du Bois, “Karl Marx and the Negro”, em Marx e Fredrich Engels, The Civil War in the United States, 218 (reimpresso de Crisis 40, no 3 [março de 1933]: 55–56).
  15. Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 300, 302–5.
  16. Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 306. See the similar argument in Dale Tomich, Veja um argumento parecido em Dale Tominch Through the Prism of Slavery (Nova Iorque: Rowman and Littlefield, 2004), 23–24.
  17. Marx, O Capital, vol. 1, 925.
  18. Marx, O Capital, vol. 1, 915–24
  19. Johnson, “The Pedestal and the Veil.”
  20. See Smallwood, “What Slavery Tells Us About Marx”; J. Lorand Matory, The Fetish Revisited (Durham, NC: Duke University Press, 2018), 61; Sara-Maria Sorentino, “The Abstract Slave: Anti-Blackness and Marx’s Method”, International Labor and Working Class History 96 (2019): 17. Johnson procurou apoiar seu argumento no fato de que a metáfora do pedestal e do véu era toda sobre a evasão da realidade do capitalismo e da escravidão ao apontar que Marx utilizou a metáfora do linho como valor de uso, comparando-o ao valor de uso de um casaco. Ele afirmou que este foi outro exemplo da evasão de Marx sobre a escravidão, visto que o algodão foi, assim, deslocado do argumento. No entanto, as sobrecasacas masculinas eram muitas vezes feitas de linho na época, e o objetivo de Marx aqui era comparar o valor de uso do casaco final com o valor de uso do tecido com o qual foi feito. Ele pode estar pensando em seu próprio casaco de linho quando escreveu a passagem. Dificilmente se pode dizer que Marx ignorou o algodão no primeiro volume de O Capital, visto que ele aparece ao longo dessa obra. Johnson, “The Pedestal and the Veil,” 301–2; Marx, O Capital, vol. 1, 132–33.
  21. Plutarco, “Isis and Osiris,” Moralia.
  22. Georg Wilhelm Friedrich Hegel, The Philosophy of Nature (Oxford: Oxford University Press, 2004), 10; Guenter B. Risse, “The Veil of Isis Allegory: Historical Visions of the Natural World,” Research Gate, August 1, 2017.
  23. Compare com Johnson, que escreve que a escravidão é “uma história de salários assim como de chicotes, de fábricas assim como de plantations”. Walter Johnson, “To Remake the World”, Boston Review, 20 de fevereiro de 2018. Marx claramente acreditava que a indústria no norte dos EUA estava integrada à economia das plantations no sul, e que o capitalismo escravagista e “os estados do sul na união” foram integrados ao “mercado mundial” por meio do comércio de algodão. Marx, O Capital, vol. 3, 809. Ver também Edward Gibbon Wakefield, England and America, vol. 2 (Londres: Richard Bentley, 1833), 26–27. Como escreveu Cox, no início do século XIX, “a economia americana baseava-se em seu comércio exterior, do qual a escravidão se tornou um pivô”. Cox, Capitalism as a System, 124.
  24. Karl Marx, The Poverty of Philosophy (Nova Iorque: International Publishers, 1963), 111. Claro, a escravidão era mais do que simplesmente uma categoria econômica para Marx — era também uma categoria social. Ainda assim, no contexto do comércio transatlântico de escravos, Marx não cometeu o erro de confundir a escravidão com um sistema de trabalho forçado com características raciais essencialistas que muitas vezes eram usadas ideologicamente para justificá-lo. Ele estaria totalmente de acordo com a declaração de Eric Williams de que “um toque racial foi … dado ao que é basicamente um fenômeno econômico. A escravidão não nasceu do racismo: o racismo foi consequência da escravidão. O trabalho não-livre no Novo Mundo era marrom, branco, preto e amarelo, católico, protestante e pagão ”. Criticando a visão dos economistas burgueses que dizem que um “escravo negro … [é] um homem da raça negra”, Marx respondeu: “Um negro é um negro. Somente sob certas condições ele se torna um escravo. ” Eric Williams, Capitalism and Slavery (Nova Iorque: Capricórnio, 1966), 7; Karl Marx, “Wage-Labor and Capital” em Wage Labor and Capital / Value, Price and Profit (Nova Iorque: International Publishers, 1976), 28.
  25. “The Lace Trade in Nottingham,” Daily Telegraph, 17 de janeiro de 1860, citado em Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 217.
  26. Marx, O Capital, vol. 1, 345.
  27. Karl Marx e Fredrich Engels, Collected Works, vol. 30 (Nova Iorque: International Publishers, 1975), 197.
  28. Robin Blackburn, The Making of New World Slavery (Londres: Verso, 1997), 339–40.
  29. Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 183–85; Marx, O Capital, vol. 1, 344–45; Casey Cep, “The Long War Against Slavery,” New Yorker, January 27, 2020.
  30. Marx e Engels, Collected Works, vol. 30, 215.
  31. Karl Marx e Frederich Engels, On Colonialism (Nova Iorque: International Publishers, 1972), 115; editorial em Times of London, March 10, 1882, 9. Ver também Y. J. Murrow, “The Coolie Trade in China and Peru,” Anti-Slavery Reporter 16, no. 12 (December 1869): 273–79.
  32. Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 8–15.
  33. Marx, O Capital, vol. 1, 377.
  34. Marx, O Capital, vol. 1, 345.
  35. Carey, The Slave Trade, Domestic and Foreign, 12.
  36. Karl Marx e Frederich Engels, Selected Correspondence (Moscou: Progress Publishers, 1975), 78–79.
  37. Comte, Traité de législation, 392; Stedman, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam, 320.
  38. Marx e Engels, Collected Works, vol. 5, 308, 599; Comte, Traité de législation, 392; Stedman, Narrative of a Five Years’ Expedition Against the Revolted Negroes of Surinam, 320–21.
  39. Marx, O Capital, vol. 1, 345; Marx e Engels, Collected Works, vol. 5, 308–09; Marx, Miséria da Filosofia, 111.
  40. Karl Marx, On the First International (Nova Iorque: McGraw Hill, 1973), 99.
  41. Marx, Capital, vol. 1, 916.
  42. Marx e Engels, The Civil War in the United States, 30, 44; Buxton, The African Slave Trade and Its Remedy, 202; Cairnes, The Slave Power, 124.

Sobre os Autores

John Bellamy Foster é editor da Monthly Review e professor de sociologia na Universidade de Oregon. Hannah Holleman é diretora da Monthly Review Foundation e professora associada de sociologia no Amherst College. Brett Clark é editor associado da Monthly Review e professor de sociologia da Universidade de Utah.

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