Imperialismo no Antropoceno

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37 min readSep 5, 2022

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Por John Bellamy Foster, Hannah Holleman e Brett Clark. Publicado em 1º de junho de 2019 em Monthly Review.

Traduzido por Débora Cunha. Revisado por Rafaela Milara.

Em 21 de maio de 2019, o Grupo de Trabalho do Antropoceno, estabelecido pela Subcomissão de Estratigrafia Quaternária da Comissão Internacional de Estratigrafia, obteve votação acima dos 60% necessários para o reconhecimento da existência do Antropoceno enquanto época do tempo geológico, começando por volta de 1950. O grupo de trabalho definiu essa nova era “cronoestratigráfica” como “o período da história da Terra durante o qual os humanos têm uma influência decisiva no estado, na dinâmica e no futuro do Sistema Terrestre”. A mudança antropogênica, a partir de meados do século XX, foi designada como a principal força na evolução acelerada de todo o Sistema Terrestre. O Grupo de Trabalho do Antropoceno prosseguirá designando uma “cavilha de ouro” [golden spike] específica, ou local estratigráfico, que represente o Antropoceno no registro geológico, com o objetivo de fazer com que a nova época seja oficialmente adotada pela Comissão Internacional de Estratigrafia nos próximos anos.1

Um forte consenso científico internacional está, portanto, emergindo com relação à designação da nova época geológica do Antropoceno — um termo frequentemente atribuído a Paul Crutzen e Eugene Stoermer em 2000, embora tenha aparecido em inglês pela primeira vez décadas antes, em “O sistema antropogênico (período)” na Grande enciclopédia soviética2 O Antropoceno, na cosmovisão científica, representa uma ruptura quantitativa e qualitativa com todas as épocas geológicas anteriores. Mudanças em uma escala que pode ser vista como a divisão de grandes épocas geológicas, que ocorriam anteriormente ao longo de milhões de anos, agora ocorrem ao longo de décadas ou, no máximo, séculos, devido à ação humana. Nesse sentido, o Antropoceno representa uma ruptura brusca com a época relativamente estável do Holoceno dos últimos 11 mil a 12 mil anos, cujo início marcou o fim da última era do gelo.

Na visão do Grupo de Trabalho do Antropoceno e dos cientistas do Sistema Terrestre de hoje em geral, o advento da época do Antropoceno é o produto de uma Grande Aceleração de mudanças economicamente impulsionadas em meados do século XX, associada ao que às vezes é chamado pelos economistas de “ idade de ouro” do crescimento capitalista após a Segunda Guerra Mundial. Isso levou ao cruzamento de várias fronteiras planetárias, gerando várias “rupturas antropogênicas”.3

A metade do século XX também foi um período de Guerra Fria. Portanto, um “marcador primário” do Antropoceno são “os radionuclídeos artificiais espalhados pelo mundo pelos testes de bombas termonucleares desde o início dos anos 1950”.4 Entre as mudanças associadas à Grande Aceleração que marcaram época estão os vastos aumentos agudos em: queima de combustíveis fósseis, emissões de dióxido de carbono, acidificação dos oceanos, extinção de espécies (e perda da biodiversidade de forma mais geral), alterações nos ciclos do nitrogênio e do fósforo, esgotamento de água doce, perda de florestas e poluição química. O resultado é uma emergência ecológica planetária ou uma crise do Sistema Terrestre.5

Hoje não pode haver dúvida quanto à principal força por trás dessa emergência planetária — o crescimento exponencial da economia capitalista mundial, particularmente nas décadas desde meados do século XX. O próprio capital pode ser descrito como uma relação social de valor econômico (de mercadoria) que se autoexpande. O capitalismo, ou o sistema de acumulação de capital baseado na exploração de classe e em conformidade com as leis do movimento impostas pela competição de mercado, não reconhece limites para a sua autoexpansão. Não há lucro, riqueza ou consumo que seja “suficiente” ou “demais”.6 Nesse sistema, o ambiente planetário não é visto como um lugar com limites inerentes dentro dos quais os seres humanos devem viver, junto com outras espécies da Terra, mas sim como um reino a ser explorado em um processo de crescente expansão econômica no interesse do ganho aquisitivo ilimitado — do qual a maior parte acaba nas mãos de poucos. As empresas, de acordo com a lógica interna do capital, devem crescer ou morrer — assim como o próprio sistema.

O capitalismo, portanto, promove uma “loucura da razão econômica” que pode ser vista como prejudicial à saúde da relação metabólica humana com o meio ambiente.7 A mera crítica do capitalismo como um sistema econômico abstrato, no entanto, é insuficiente para abordar os problemas ambientais de hoje. Em vez disso, é necessário também examinar a estrutura de acumulação em escala mundial, associada à divisão do mundo em Estados-nação concorrentes. Nossos problemas planetários não podem ser enfrentados de forma realista sem que se enfrente o sistema imperialista mundial, ou o capitalismo globalizado, organizado com base em classes e Estados-nação, e dividido em centro e periferia. Nos dias de hoje, isso apresenta, necessariamente, a questão do imperialismo no Antropoceno.

O imperialismo tardio e o Antropoceno

Lucros extra-altos derivados do arrendamento imperialista, drenados da periferia ou do Sul global no processo de produção de mercadorias, como Samir Amin argumentou, tem assumido, historicamente, duas formas: 1) transferências de valor de troca e 2) transferências de valor de uso.8 Essa última forma pode ser vista como um processo de imperialismo ecológico, em que a extração de recursos frequentemente devastou os países pobres, que se veem confrontados com a expropriação (apropriação sem equivalente ou reciprocidade) das “dádivas gratuitas da Natureza ao capital” encontradas em seus territórios, junto com os custos ecológicos de extração.9 De acordo com Gyekye Tanoh, chefe da Unidade de Economia Política da Rede do Terceiro Mundo-África, com sede em Acra, Gana, dados do Banco de Gana recentemente divulgados mostram que:

Dos $ 5,2 bilhões de ouro exportados de Gana por mineradoras de propriedade estrangeira [de 1990 a 2002], o governo recebeu apenas $ 68,6 milhões [em] pagamentos de royalties e $ 18,7 milhões em impostos de renda corporativa. Em outras palavras, o governo recebeu um total de menos de 1,7% das receitas globais de seu próprio ouro. Uma vez que esses números subestimam notoriamente o valor das exportações de ouro, os retornos para Gana seriam muito menores. O que é ainda mais chocante é que — com base na análise do Banco de Gana — a parcela da riqueza que vai para as comunidades diretamente impactadas pela mineração é de 0,11%.10

Embora o ouro seja um exemplo particularmente claro e dramático, tal pilhagem é um fenômeno geral presente em diferentes graus em relação a quase todos os recursos naturais — seja ouro, guano, petróleo, café ou soja — que são sistematicamente drenados do Sul global por corporações multinacionais. O resultado é a imposição de enormes perdas ecológicas e econômicas aos países pobres e dependentes — um processo examinado ao longo dos séculos em sua relação com o colonialismo e o neocolonialismo nas Américas em As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano.11 A contabilidade econômica capitalista, que mede valores de troca, mas não valores de uso, serviu para disfarçar o quanto o arrendamento imperialista se associa à expropriação dos valores de uso.12 Portanto, é importante considerar a totalidade da profundidade do roubo ecológico dos povos da periferia — um processo inerentemente violento, historicamente associado “à extirpação, à escravização e ao sepultamento em minas” de populações da periferia, o que hoje se conecta a outras formas de expropriação e exploração extrema, também de natureza violenta.13

Nos séculos XX e XXI, o imperialismo se caracterizou pelo domínio de grandes corporações monopolistas. Isso levou V. I. Lenin a identificar o estágio imperialista do capitalismo com o capitalismo monopolista (embora reconhecendo expressamente que “política colonial e imperialismo”, em um sentido mais geral, também existiram antes disso e até mesmo antes do capitalismo).14 Em sua fase mais recente, desde os anos 1970, o sistema imperialista assumiu a forma de crescente domínio do capital monopolista-financeiro, representando um alto nível de globalização da produção na forma de cadeias produtivas globais.

Essas cadeias produtivas globais são integradas a uma acelerada transferência de longo prazo de matérias-primas físicas dos países pobres para os ricos, com “pegadas materiais” [material footprints] muito maiores, definidas como “a alocação global da extração de matéria-prima em uso para a demanda final de uma economia”. Utilizando a análise de pegada material, descobriu-se que, em 2008, 40% da extração total de matéria-prima global tinha o objetivo de permitir o comércio em outros países. Cerca de 70 bilhões de toneladas de matéria-prima foram extraídas naquele ano, a maior quantidade até então em toda a história. As importações de equivalentes de matéria-prima (materiais primários incorporados) no comércio têm seus maiores índices per capita nas economias ricas, lideradas por Japão, Reino Unido e Estados Unidos. A tendência geral nas economias maduras é de um “processo de externalização de processos com uso intensivo de recursos”, tornando-as cada vez mais dependentes de importações equivalentes de matéria-prima do resto do mundo. Ao mesmo tempo, cerca de dois terços do fluxo material total de recursos extraídos associado às exportações permanecem nos países exportadores, principalmente como resíduos processados ​​e fluxos materiais auxiliares, muitas vezes gerando consideráveis ​​danos ecológicos, classificados como externalidades econômicas.15

Embora a China seja frequentemente designada como o país com a maior pegada material, valendo-se de recursos do mundo inteiro, a imagem que isso transmite é falsa, dado que a China é, de longe, um exportador líquido [net exporter] de materiais primários em termos de pegada material incorporada. Tal padrão de desenvolvimento, associado aos países do Sul global em geral, relega a esses Estados-nação custos ecológicos descomunais, enquanto, em termos de consumo, os benefícios dos recursos naturais se direcionam principalmente aos países ricos, sob condições dominadas por trocas ecológicas desiguais.16

Se a pilhagem ecológica vem ocorrendo, ao longo dos séculos, por meio de vários modos de expropriação e exploração impostos diretamente sobre as colônias e as neocolônias no Sul global, os efeitos do imperialismo ecológico também são evidentes em relação aos comuns globais [global commons], ou seja, nos oceanos e na atmosfera. Desde a criação da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, quase metade do oceano do mundo está sob a jurisdição de Estados-nação, principalmente dentro de “zonas econômicas exclusivas”. Oitenta e três países, a maioria deles pequenas nações insulares, mas também Estados maiores — como o Reino Unido e os Estados Unidos –, agora têm mais oceano do que terra em suas jurisdições territoriais. Isso facilitou a expropriação dos recursos do oceano. Também deu domínio nesse campo às principais nações imperialistas, que têm o capital e a tecnologia para saquear esses recursos. Essas nações centrais também são frequentemente capazes de tomar o controle e tirar vantagem dos estados periféricos, particularmente com a influência econômica fornecida pela introdução crescente de regimes de privatização da gestão dos oceanos promovida pelos Estados. O resultado, nos últimos anos, tem sido o que é conhecido como apropriação oceânica [ocean grabbing], que exclui pequenas nações e pequenos pescadores e permite que corporações multinacionais se instalem e explorem excessivamente os recursos pesqueiros e do fundo do mar. Enquanto isso, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos permite que Estados e corporações explorem, em benefício próprio, petróleo, gás natural, minerais e metais preciosos no e abaixo do fundo do mar em águas internacionais, apesar do fato de que estes são comuns oceânicos.17

Como o relator especial das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, declarou em 2012, “‘apropriação oceânica’ — na forma de acordos de acesso duvidosos que prejudicam os pescadores de pequena escala […] e do desvio de recursos para longe das populações locais — pode ser uma ameaça tão séria quanto a ‘grilagem de terras’”.18 A apropriação oceânica é, portanto, um processo de cercamento dos oceanos. O Instituto Transnacional determinou, em 2012, que “as frotas de grande escala que operam em zonas marinhas territoriais ‘capturam’ recursos dos pescadores locais e de toda a cadeia de pessoas que dependem das atividades tradicionais de pesca. Os acordos de pesca da União Europeia (UE) com Marrocos, Maurício, Mauritânia e Estados insulares do Pacífico, por exemplo, estão promovendo esse tipo de expropriação”.19 As frotas pesqueiras globais dobraram sua capacidade para 3,5 milhões de navios desde os anos 1970, mas 1% desses que são navios industriais respondem por até 60% da captura de frutos do mar. Pequenos países insulares geralmente recebem uma ninharia pela venda de seus direitos de pesca para frotas internacionais.20

O que às vezes é chamado de comum atmosférico revela as consequências históricas do imperialismo de uma maneira totalmente diferente. A mudança climática antropogênica, induzida principalmente por emissões cumulativas de dióxido de carbono a partir da Revolução Industrial, obrigou a comunidade mundial a adotar um orçamento climático implícito, baseando-se em limites de emissões de carbono determinados pela máxima concentração aceitável de carbono na atmosfera. Isso significa encontrar uma maneira de voltar para as 350 partes por milhão (ppm) partindo das atuais 414 ppm de concentração de dióxido de carbono na atmosfera, mantendo-se a todo custo abaixo de 450 ppm. O objetivo é limitar o aumento da temperatura média global em relação aos níveis pré-industriais a 1,5°C — com um aumento de 2°C (correspondendo a 450 ppm) representando o limite final, além do qual a mudança climática provavelmente sairá irreversivelmente de controle. De acordo com esses parâmetros, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas recentemente pediu que as emissões líquidas de carbono sejam zeradas até 2050, o que ofereceria pelo menos 50% de chance de limitação do aumento das temperaturas médias globais a 1,5°C.

Atualmente, mais de 60% do carbono permitido sob esse orçamento — se o mundo quiser apenas ficar abaixo de um aumento de 2°C na temperatura média global (equivalente a 450 ppm) — já foi emitido para a atmosfera. Os negócios de hoje colocam o mundo na rota para atingir a trilionésima tonelada métrica de carbono, atingindo o limite de 2°C — marcando uma mudança climática irreversível — em 2035.21 As emissões de dióxido de carbono são cumulativas, então o que importa é a quantidade com a qual cada país ou região contribuiu. Os Estados Unidos, o Canadá, a Europa (e a Eurásia), o Japão e a Austrália contribuíram, em conjunto, com cerca de 61% do total, em comparação com 13% da China e da Índia juntos. A Rússia responde por outros 7%; e os navios mundiais e o transporte aéreo, por 4%. Todo o resto do globo é responsável por 15% das emissões cumulativas. Essas disparidades só aumentam se as emissões baseadas no consumo, e não na produção, forem usadas.22

Do ponto de vista do Sul global, isso significa que o espaço atmosférico para o uso de combustíveis fósseis para seu próprio desenvolvimento já foi ocupado pelos países imperialistas e muito pouco resta para os países do Sul desenvolverem suas próprias economias. Em princípio, a Convenção do Clima das Nações Unidas sob o Protocolo de Kyoto deu aos países ricos uma responsabilidade muito maior pela redução das emissões de dióxido de carbono, estipulando que os países do Anexo I cortariam drasticamente suas emissões perante os países em desenvolvimento, cujas emissões cumulativas são menores.23 Ainda assim, as emissões per capita dos EUA permaneceram em cerca de três vezes a média global e suas emissões totais continuam a aumentar. Calculando a parcela per capita das emissões cumulativas de dióxido de carbono em 2012, os principais países capitalistas já haviam excedido sua parcela justa em 568 bilhões de toneladas métricas, criando uma enorme dívida ou obrigação de carbono perante os países subdesenvolvidos.24

Embora os polos estejam aquecendo mais rápido do que as regiões de baixa latitude do globo, os efeitos nas latitudes médias a baixas, especialmente nas regiões secas, podem ser muito graves. O aquecimento global está atingindo especialmente as regiões tropicais e subtropicais da Terra, mais quentes e de baixa latitude. Muitos países de baixa latitude estão enfrentando aumentos de temperatura que ameaçam torná-los inabitáveis. As condições do sistema terrestre determinam, portanto, quais regiões globais são mais afetadas geofisicamente pelas mudanças climáticas, com os países nos trópicos e nos subtrópicos inicialmente mais vulneráveis. Assim, um estudo crucial publicado em Environmental Research Letters, em 2011, declarou: “Os países mais afetados pelo aquecimento não são os maiores responsáveis ​​por ele. O fato de que o aquecimento local significativo emerge primeiro em países [de baixa latitude] com baixas emissões não tem uma causa econômica ou social subjacente”.25 Conforme declarado pelos climatologistas James Hansen e Makiko Sato, “o aumento da temperatura em si impõe um forte efeito, desproporcionalmente grande nos países de baixa latitude […] As emissões de combustível fóssil do ritmo habitual dos negócios resultam em algumas regiões do Oriente Médio se tornando praticamente inabitáveis no final do século”. Os subtrópicos são particularmente vulneráveis ​​à intensificação da seca. Em contraste, os países localizados em latitudes mais altas, que geralmente são mais ricos, embora afetados pelos aumentos na intensidade das tempestades, das secas e das ondas de calor induzidos pelas mudanças climáticas, podem, em alguns casos, encontrar suas temperaturas médias se movendo mais em direção ao ótimo global.26

Mas se os países em regiões mais quentes e de baixa latitude são afetados desproporcionalmente pelo aquecimento global, isso só é agravado pelo fato de que esses países também são geralmente mais pobres, o que é o resultado de causas histórico-sociais. Um efeito da mudança climática é, portanto, exacerbar as desigualdades globais já existentes. Sendo assim, espera-se que os efeitos absolutamente catastróficos das mudanças climáticas surjam primeiro no Sul. O Norte também está ameaçado, mas, pelo menos inicialmente, em menor grau, tanto por fatores ambientais quanto sociais. Uma análise publicada pela Nature forneceu uma estimativa de referência em que “a renda média nos países que constituem os 40% mais pobres do mundo diminuirá em 75% até 2100 em comparação a um mundo sem mudanças climáticas, enquanto os 20% mais ricos experimentarão ligeiros ganhos, uma vez que geralmente são mais frios”.27 Embora os números possam ser questionados, a divergência de tendências é óbvia.

Essa divergência entre os destinos do Norte e do Sul globais, fortemente impactada pelas dimensões imperialistas da ruptura metabólica, já se faz sentir. Um artigo de Noah S. Diffenbaugh e Marshall Burke, “Global Warming Has Aumented Economic Inequality” [“O aquecimento global aumentou a desigualdade econômica”], publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences, em 14 de maio de 2019, indicou que “há evidências crescentes de que os países ou indivíduos mais pobres são mais negativamente afetados por uma mudança climática, seja porque não têm recursos para proteção do clima ou porque tendem a residir em regiões mais quentes, onde o aquecimento adicional seria prejudicial para a produtividade e a saúde”. A combinação de fatores ambientais e sociais sugere que existem algumas “penalidades induzidas pelo aquecimento em países pobres, juntamente com benefícios induzidos pelo aquecimento em alguns países ricos”.28 A complexidade das condições climáticas e a multiplicidade de perigos decorrentes de mudanças climáticas abruptas sugerem que, embora os países pobres do Sul experimentem efeitos catastróficos, as ameaças aos países do Norte não são de forma alguma desprezíveis. Ainda assim, o fator mais importante na determinação de resultados diferenciados é, sem dúvida, o social, relacionado à maior riqueza e, portanto, acesso a recursos do Norte.

Outros fatores de mudança climática também apontam para um maior impacto no Sul global do que no Norte. Pequenos Estados insulares em desenvolvimento, 37 dos quais são membros das Nações Unidas e outros 15 classificados como meros territórios, estão todos ameaçados pelo aumento do nível do mar, assim como nações costeiras de baixa altitude e frequentemente muito povoadas, como Bangladesh e Vietnã.29 A perda de “torres de água” associadas a geleiras de montanha e nascentes que se comportam como reservatórios, armazenando água durante o inverno e liberando-a lentamente no verão, terá seu maior impacto no subcontinente indiano e na China, onde números que chegam aos bilhões ou mais de pessoas podem ter seu suprimento de água reduzido pelo derretimento das geleiras do Himalaia.30 As mudanças climáticas podem interromper as monções, com consequências enormes, mas imprevisíveis. As florestas tropicais, com sua grande diversidade de vida e sua importância para a estabilidade climática regional e global, são especialmente vulneráveis ao aquecimento.

Dada a realidade do imperialismo, a principal resposta das estruturas de poder econômico e militar do Norte a essa ruptura climática, apontando a maior gravidade das vulnerabilidades às mudanças climáticas no Sul global do que no Norte global, tem sido principalmente de caráter duplo: 1) explorar como essas vulnerabilidades no Sul criam novos problemas de segurança global e 2) como podem ser empregadas para aumentar o domínio imperial. Isso é mais óbvio no caso dos Estados Unidos, onde a nova grande estratégia do governo Donald Trump é de “domínio energético” global por meio da expansão da produção de combustíveis fósseis e do uso disso para alavancar maior poder geopolítico e geoeconômico.31 Os militares dos EUA, enquanto isso, estão se preparando para uma série de novas vulnerabilidades, especialmente aquelas relacionadas ao petróleo e à água, e para intervenções que visem garantir a hegemonia global dos EUA nessas circunstâncias em constante mudança. Os interesses econômicos e militares estão trabalhando juntos para criar estratégias que garantam o valor global e as cadeias de recursos, de modo a fortalecer a Fortaleza América e proteger suas linhas de abastecimento — trabalhando também com seus parceiros juniores na tríade: Europa e Japão. Esse reposicionamento estratégico do imperialismo no Antropoceno pode ser mais bem visto examinando-se a corrida pelo controle dos recursos naturais em duas áreas: combustíveis fósseis e água.

Imperialismo energético

Em 2018, John Lehman, secretário da Marinha no governo Ronald Reagan, refletindo sobre as duas grandes guerras travadas pelos Estados Unidos no Oriente Médio no final do século XX e no início do século XXI, declarou: “Você não quer cair na armadilha da esquerda e dizer que só fomos ao Iraque por causa do petróleo, mas dependendo [de] como você coloca as coisas, os custos [dessas guerras] podem ser atribuídos à dependência estratégica que temos no petróleo do Golfo”.32 Em outras palavras, a questão, de acordo com Lehman, não era apenas sobre as recompensas imediatas da produção adicional de petróleo — uma visão ingênua que ele atribuía à esquerda — mas a defesa de todo um sistema econômico imperial baseado em combustíveis fósseis.

Hoje, após a revolução do fraturamento hidráulico, os Estados Unidos estão oficialmente perseguindo uma estratégia de domínio energético total no que é visto como uma competição global por combustíveis fósseis, em um cenário de perturbação ecológica planetária.33 O papel das mudanças climáticas na alteração das condições de domínio imperial dos EUA permeia as discussões militares e de segurança estadunidenses. E, embora o aquecimento global em si não seja mencionado no documento oficial de Estratégia de Segurança Nacional de 2017 dos Estados Unidos, sua própria ausência, juntamente com a insistência em defender a “soberania” dos EUA com relação aos combustíveis fósseis e a crítica das abordagens “anticrescimento” para a energia fóssil, aponta seu significado primordial na crise do Antropoceno, mesmo lá.34

A abordagem geral da comunidade estratégica e militar dos EUA é ver a mudança climática como um “multiplicador de ameaças”, associando-se a fatos como: instabilidade política, efeitos negativos sobre a disponibilidade e preços de alimentos, escassez de água e energia, disseminação de doenças, emergências meteorológicas extremas, migração em massa, perturbação do transporte marítimo, colapso econômico em nações vulneráveis e aumento das ameaças às cadeias de abastecimento globais econômicas — particularmente em relação a materiais estratégicos.35 O ponto de vista prevalecente é aquele que olha para fora da Fortaleza América e de seus vários bastiões globais, abrangendo os Estados Unidos (e o Canadá); suas bases militares no exterior, que são mais de 600; suas dependências; seus chamados aliados europeus e japoneses; o Grande Oriente Médio, onde tem travado uma guerra perpétua há quase três décadas; e suas várias linhas críticas de suprimento.36

Já em 2003, um relatório encomendado pelo Pentágono sobre mudanças climáticas abruptas declarava que era necessário “criar métricas de vulnerabilidade” com relação a quais países seriam mais afetados pelas mudanças climáticas, a fim de possibilitar aos Estados Unidos uma ação eficaz na salvaguarda dos seus próprios interesses geoestratégicos. Foi sugerido que, sob essas circunstâncias, populações relativamente abastadas, com amplos recursos naturais e capacidade de produção de alimentos, como os Estados Unidos e a Austrália, provavelmente seriam levadas a construir muros e “fortalezas defensivas” em torno de si para manter ondas maciças de supostos imigrantes do lado de fora, sem dúvida em nome da defesa de sua soberania nacional.37 Como o relatório explicou, a violência e a perturbação decorrentes do estresse criado por mudanças abruptas no clima representam um tipo diferente de ameaça à segurança nacional do que aquele ao qual estamos acostumados hoje. O confronto militar pode ser desencadeado por uma necessidade desesperada de recursos naturais, como energia, alimentos e água, em vez de conflitos por ideologia, religião ou honra nacional. A mudança de motivação do confronto alteraria quais países são mais vulneráveis e os sinais de alerta existentes para ameaças à segurança.38

À medida que a capacidade de suporte do mundo diminui sob condições climáticas adversas, os autores do relatório indicaram que a guerra se tornaria mais generalizada, produzindo maiores perigos de conflagração termonuclear.

A literatura militar e de segurança nos Estados Unidos continuou a promover essa perspectiva estratégica geral, afirmando a realidade da mudança climática enquanto se concentra nos meios de fazer avançar a hegemonia global dos EUA no contexto da atual emergência planetária. Está implícito aqui o reconhecimento de que os Estados Unidos serão, inicialmente, menos diretamente atingidos pelos efeitos do aquecimento global do que a maior parte do resto do mundo. Washington pode então se concentrar em usar seu poderio econômico, político e militar global nessas circunstâncias de crescente caos e catástrofe mundial, a fim de avançar sua própria agenda de domínio total.

Nesse contexto, o estado militar e imperial dos EUA e a sua economia permanecem intimamente ligados às principais corporações de combustíveis fósseis dos EUA. Isso levou ao desenvolvimento de uma nova estratégia de imperialismo de energia, na qual a preeminência dos EUA no controle da energia mundial e um compromisso com a extração máxima de combustível fóssil foram colocados no centro dos objetivos de segurança nacional atuais. Com a revolução do fraturamento hidráulico, a produção de petróleo e gás dos EUA aumentou maciçamente, fazendo com que o governo Barack Obama removesse as regulamentações que limitavam a exportação de petróleo bruto dos EUA. Entre 2015 e 2018, as exportações de petróleo bruto dos EUA aumentaram quatro vezes, e suas exportações de gás natural líquido aumentaram 35 vezes. Em 2018, os Estados Unidos exportaram 2 milhões de barris de petróleo bruto por dia, tornando-se um dos maiores exportadores de petróleo do mundo. Ao mesmo tempo, a diminuição da dependência das importações de petróleo permitiu a imposição de sanções econômicas severas às principais potências petrolíferas de oposição, como a Venezuela, o Irã e a Rússia.39

O governo Trump procurou remover todas as restrições regulatórias que limitavam a expansão da indústria de combustíveis fósseis. Isso resultou em uma vasta expansão da produção e da infraestrutura de combustíveis fósseis, com os Estados Unidos emergindo como o maior produtor de petróleo e gás natural do mundo. Mesmo enquanto debates sobre um Novo Acordo Verde estão ocorrendo nos Estados Unidos e no mundo como um todo, a expansão de oleodutos e gasodutos triplicou globalmente desde 1996, com mais da metade dos projetos de expansão de oleodutos em andamento (e mais de um terço, quando medimos pelo comprimento do duto) estando localizados na América do Norte, conectando pontos de extração com refinarias e terminais de exportação. Os planos de expansão de oleodutos e gasodutos (pré-construção e construção) na América do Norte atingem, atualmente, US$ 232 bilhões (mais de US$ 600 bilhões globalmente), com a expansão total da infraestrutura de petróleo e gás ultrapassando US$ 1 trilhão para a América do Norte e US$ 2,9 trilhões globalmente.40

O boom dos oleodutos nos EUA é direcionado às exportações, uma vez que a expansão da extração de petróleo e gás é muito superior ao que pode ser absorvido pelo consumo interno. Sob o cenário de políticas atuais (ou o ritmo habitual dos negócios), em 2040, a demanda mundial por gás natural em relação aos preços de 2017 deverá aumentar em 55%, enquanto a demanda de petróleo deverá aumentar em 26%. Globalmente, “bancos, investidores em ações e detentores de títulos estão em processo de apostar mais de US$ 600 bilhões em um sistema dutoviário expandido [incluindo mais de 300 oleodutos e gasodutos em desenvolvimento ao redor do globo] com uma vida útil esperada de 40 anos ou mais”.41

De acordo com Ted Nace, principal autor de um relatório do Global Energy Monitor [Monitor de Energia Global] sobre a Bolha Dutoviária, “esses dutos estão estipulando enormes emissões por 40 a 50 anos de cada vez, enquanto os cientistas dizem que temos que mudar em dez anos. Esses dutos são uma aposta de que o mundo não levará a sério as mudanças climáticas, permitindo que a incumbência de petróleo e gás se fortaleça”.42 A infraestrutura dutoviária cria uma dependência de trajetória, garantindo investimento e suporte para a queima de combustíveis fósseis, reduzindo drasticamente o horizonte climático associado à trilionésima tonelada métrica de carbono. Somente nos Estados Unidos, a produção de gás natural possibilitada por esses dutos, seja em construção ou na fase de pré-construção, adicionaria mais de meio bilhão de toneladas métricas de dióxido de carbono a cada ano até 2040, em comparação aos níveis de 2017.43 ExxonMobil, a multinacional estadunidense líder em petróleo, declarou que planeja bombear 25% mais petróleo e gás para suas operações mundiais em 2025 do que fez em 2017.44

E foi apoiada na expansão da produção e da estrutura de petróleo e gás natural que a administração Trump erigiu sua nova estratégia imperialista de domínio energético global em desafio a todas as preocupações acerca das mudanças climáticas. Como Trump declarou em junho de 2017: “Seremos dominantes. Vamos exportar energia americana para todo o mundo, para todo o globo”, especialmente para a Ásia. A indústria de combustíveis fósseis salvou a “soberania” dos EUA. A política energética dos EUA é expandir não apenas a produção de petróleo e gás, mas a produção de carvão em todo o mundo. Os Estados Unidos, declarou Trump, estavam trabalhando no financiamento de usinas de carvão no exterior, na Ucrânia e em outros lugares.45

O documento de Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, lançado em dezembro de 2017, insistia que o “domínio energético” — dando aos Estados Unidos a posição central em todos os aspectos da produção e consumo de energia global, com base na “liberação” de seus abundantes recursos fósseis — era a chave para o crescimento econômico e para “combater uma agenda energética anticrescimento que é prejudicial para os interesses econômicos e de segurança energética dos EUA”.46 Michael Klare observa: “Da perspectiva da Casa Branca, os EUA estão engajados em uma luta importante pelo poder global com nações rivais, e, afirma-se, a abundância de combustíveis fósseis no país confere-lhe uma vantagem vital. Quanto mais desses combustíveis a América produz e exporta, maior sua estatura em um sistema mundial competitivo, e é precisamente por isso que maximizar essa produção já se tornou um dos principais pilares da política de segurança nacional do presidente Trump”. Essa “militarização da política energética” não ocorre baseada na ignorância das mudanças climáticas ou do advento do Antropoceno, mas baseada em uma aposta de que os combustíveis fósseis são o meio para aumentar o poder imperial, superando todas as outras considerações, e devem ser encaminhados de modo que nenhuma revolução de energia alternativa seja possível.47 Dane-se a humanidade.

Em 28 de maio de 2019, o Departamento de Energia dos EUA emitiu um comunicado à imprensa rebatizando o gás natural como gás da liberdade e referindo-se às suas moléculas de dióxido de carbono como “moléculas da liberdade dos EUA”.48

Imperialismo da Água

Um dos impactos mais imediatos e profundos da mudança climática para as pessoas em todo o mundo é a aceleração do ciclo global da água causado pelo excesso de gases de efeito estufa (aprisionamento de calor/energia) na atmosfera. Essencialmente, como disse o escritor científico Richard A. Kerr, desde 1950, “os lugares úmidos ficaram mais úmidos, enquanto os lugares secos ficaram mais secos”.49 Tempestades mais violentas e precipitação excessiva na forma de inundações aumentam os riscos para a agricultura em regiões úmidas. A crescente ameaça de seca extrema e de longo prazo em muitas outras regiões do mundo, o fato de que a maioria das terras agrícolas do mundo sofre com altos níveis de degradação e perda de solo e o deslocamento de pessoas devido a tais desastres ecológicos antropogênicos são indicativos de uma expansão renovada da formação de nuvens de areia severas [dust-bowlification] em um ritmo e escala sem precedentes.50

Embora o desmatamento seja reconhecidamente um colaborador das mudanças climáticas, ele também tem efeitos diretos no ciclo hidrológico mundial. As florestas são componentes críticos do ciclo da água no mundo e são responsáveis por fornecer chuvas vitais às regiões ao redor do mundo. O desmatamento generalizado resulta na perda de “gigantescos rios de água no ar” — formados a partir do vapor d’água liberado na atmosfera pelas vastas florestas do mundo à medida que as árvores e outras plantas exalam, através de suas folhagens, a umidade retirada do solo por meio de sistemas complexos de raízes.

Fred Pearce escreve: “À medida que cortamos as árvores do planeta, corremos o risco de secar esses rios aéreos e as terras que dependem deles para receber chuva. Um crescente corpo de pesquisas sugere que esse impacto do desmatamento até então negligenciado poderia, em muitos interiores continentais, ofuscar os impactos da mudança climática global. Isso pode secar o Nilo, prejudicar as monções asiáticas e desidratar campos da Argentina ao Meio-Oeste dos Estados Unidos”.51

No atual contexto econômico imperial, o impacto da aceleração e da interrupção do ciclo global da água na disponibilidade diária de água e na produção de alimentos é grave o suficiente para contribuir para que os níveis de fome aumentem mais uma vez, especialmente na América Latina e na maior parte da África.52 De fato, enquanto a Bain and Company relatou recentemente que, em 2019, “o mercado de bens de luxo continua a brilhar” com “comida gourmet e jantares finos […] subindo até 6%”, os índices de fome severa são, atualmente, mais altos do que em 2014 em todas as regiões, exceto na América do Norte e na Europa.53 As condições excepcionalmente secas na América Central são parcialmente responsáveis pelos imigrantes que se dirigem ao norte, para os Estados Unidos.

Nesta nova era de nuvens de poeira [Dust Bowl era], a poluição, a extração insustentável de água (especialmente para produção agrícola, industrial e de energia), a infraestrutura inadequada e defeituosa, o desmatamento e o derretimento das geleiras das montanhas do mundo — o ápice das torres de água do mundo — compõem as ameaças de escassez de água doce e alimentos.54 Um estudo de 2016 publicado na Science Advances indicou que já temos “cerca de 66% [da população global] (4,0 bilhões de pessoas) vivendo sob grave escassez de água […] pelo menos um mês por ano […] O número de pessoas que enfrentam grave escassez de água por pelo menos quatro a seis meses por ano é de 1,8 a 2,9 bilhões. […] Meio bilhão de pessoas enfrentam grave escassez de água durante todo o ano”.55

Para além das aflições dos mais vulneráveis, temos aqueles que lucram com a miséria imposta a milhões pela busca da acumulação sem fim. Reconhecendo o potencial de retorno no controle dos recursos cada vez mais escassos, porém críticos para a vida, “as corporações e os investidores em países ricos estão comprando terras agrícolas estrangeiras e os extras em forma de água doce que vêm com elas”. Os Estados Unidos são um dos países líderes nesse aspecto. Tendências recentes em negócios internacionais envolvendo terras indicam que os investidores “não se apropriam de terras em lugares sem acesso à água”, como disse a geógrafa Wendy Wolford. Nas últimas décadas, cerca de 66% dessas compras foram feitas em países com altos níveis de fome. O cientista ambiental Paolo D’Odorico, que ajudou a documentar essas tendências neocoloniais, disse que, “em muitos desses países, a soma da água apropriada seria suficiente para eliminar a desnutrição”.56

Essa situação é claramente insustentável para bilhões de pessoas no planeta, levando até mesmo Trump a reconhecer que “a água pode ser o problema mais importante a ser enfrentado pela próxima geração”.57 Não é de se espantar que, nessas condições, como estudiosos de assuntos internacionais da George Washington University escreveram, os problemas da água sejam um “acelerador da violência” e “a literatura acadêmica e as previsões de inteligência também tenham levantado dúvidas de que o estresse hídrico continuará a gerar mais cooperação do que conflito”.58 Um relatório do Center for Climate and Security destaca a luta pelo controle da água doce limitada do mundo e a “armamentização da água” como “epicentros do clima e da segurança” na “nova paisagem geoestratégica do Antropoceno”. Em outras palavras, essas são questões críticas para a segurança global, impactadas por um clima em rápida mudança e afetando regiões ao redor do mundo.59

Diante de tudo isso, os analistas de política externa se concentraram em “quem controla a torneira” e recomendaram uma abordagem mais agressiva para proteger os interesses estratégicos dos EUA com relação à água, integrando esforços do governo e do setor privado em regiões ao redor do mundo e assumindo a liderança contra a intromissão de concorrentes como a China. Eles destacam a centralidade da água e do controle das principais fontes de água doce para alavancar o poder de persuasão [soft power] e consolidar a hegemonia nas regiões, especialmente sob condições de maior escassez de água.60 Causa especial preocupação o controle das torres de água mundiais ou geleiras e nascentes de montanha responsáveis ​​por mais da metade da água doce do mundo. Esses recursos hídricos são críticos ecológica, social e economicamente porque “todos os principais rios do mundo têm suas nascentes em terras altas e mais da metade da humanidade depende da água doce que se acumula nas áreas montanhosas”.61 O controle da China sobre o planalto tibetano e o conflito potencial com a Índia sobre projetos de infraestrutura que desviam água dos usuários finais são preocupações específicas. O analista Troy Sternberg escreve que, “em ambientes transfronteiriços, a infraestrutura hídrica exemplifica a afirmação de direitos e controle hegemônicos” e que “o futuro das torres de água reflete muito um jogo de poder, tanto em termos de quem é capaz de controlar e manipular a água quanto se esse ator pode ou não rejeitar qualquer enfrentamento de usuários finais”.62

À medida que a escassez de água aumenta e o recuo e o desaparecimento das geleiras se aceleram com a mudança climática, o interesse nas disputas pelo controle dos maiores depósitos de água doce nos picos mais altos do mundo apenas se tornará maior. Os impactos derivados do encolhimento das geleiras indicam que a escala das mudanças potenciais é enorme. Mais de 1,4 bilhão de pessoas dependem da água dos rios Ganges, Indo, Brahmaputra, Yangtze e Amarelo, bem como das reservas de neve e gelo localizadas rio acima que os alimentam. Nem todos esses rios, no entanto, parecem estar igualmente sujeitos aos efeitos das mudanças climáticas, com as bacias do Brahmaputra e do Indo sendo mais diretamente afetadas.63

Em 2012, o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional dos EUA divulgou um relatório de avaliação da comunidade de inteligência sobre Segurança Hídrica Global, destacando riscos e oportunidades de interesse para os Estados Unidos em relação às bacias hidrográficas em todo o mundo. Ele destaca a ameaça de aumento dos problemas referentes à água em países “importantes para os Estados Unidos”, o que prejudicará o crescimento econômico e os objetivos das políticas dos EUA. O relatório também descreve as oportunidades que esses problemas apresentam para os Estados Unidos, cuja experiência e tecnologia serão buscadas para resolver os problemas referentes à água, e para empresas norte-americanas que lucrarão com o aumento das exportações agrícolas para regiões menos autossuficientes devido à escassez de água doce. Ressalta-se que “o envolvimento ativo dos Estados Unidos para resolver os desafios referentes à água aumentará a influência dos Estados Unidos e pode impedir que outros atores alcancem a mesma influência às custas dos Estados Unidos”.64

A ênfase na “água como uma oportunidade” é um tema proeminente na Estratégia Global da Água de 2017, lançada pelo governo Trump, que observa que “a água é um ponto de entrada para o avanço dos valores democráticos fundamentais”. O envolvimento em questões internacionais de água, é indicado, é uma oportunidade de lucro para o setor privado e uma avenida por meio da qual “encorajar instituições e organizações globais a promover as melhores políticas e abordagens alinhadas com os interesses dos EUA”. As crises hídricas são consideradas oportunidades importantes para promover os interesses dos EUA por meio de ajuda e assistência externa estratégica.65

Apesar da estratégia delineada pela atual administração dos EUA, analistas do Wilson Center e outros sugerem que o governo dos EUA não está fazendo o suficiente. Eles propõem que, “para possibilitar tal direção estratégica na hidrodiplomacia, o presidente deve estabelecer um Centro de Prevenção de Conflitos pela Água público-privado. Isso mobilizaria uma abordagem governamental unificada e, ao mesmo tempo, alavancaria o setor privado para aproveitar as oportunidades econômicas criadas”. Tal coordenação por meio de um centro estabelecido, eles argumentam, criaria “esperança e oportunidade potencial para mudar o equilíbrio de poder relacionado à água em regiões críticas”. Os mesmos analistas argumentam que a consequência inevitável da não implementação de um engajamento a todo vapor com as questões hídricas, especialmente no contexto das mudanças climáticas, é o declínio da posição dos EUA. Eles alertam que, “se não forem controlados, os efeitos da mudança climática na segurança hídrica da Ásia podem levar os vizinhos da China a se alinharem mais estreitamente com o país que controla a torneira. Esse alinhamento poderia tanto minar a presença dos EUA na região quanto conduzir a região em direção a uma estrutura de liderança multipolar que favorece a China. Os formuladores de políticas de defesa e segurança ignoram as implicações da segurança da água na Ásia por sua conta e risco”.66

No entanto, enquanto analistas de política externa e segurança dos EUA, como Marcus D. King e Julia Burnell, discutem “A Armamentização da Água em um Clima em Mudança” e apontam que os “a comunidade de inteligência dos EUA sugere que, conforme a água se torna mais escassa, os Estados podem começar a empregá-la como uma ‘arma interestadual’”, a noção de que os Estados Unidos como a principal potência imperial pode se envolver em tais ações é totalmente deixada de fora da discussão. No entanto, Washington apoia totalmente a guerra da Arábia Saudita no Iêmen, transformando a água em arma em um dos países com maior escassez de água no mundo, bombardeando represas, reservatórios e instalações de saneamento repetidamente, deixando 19 milhões de pessoas no país sem água limpa.67

Enquanto o estabelecimento da política externa se concentra na água do mundo e nos potenciais conflitos regionais, nacionais e subnacionais que agora parecem prováveis, no nível local, os defensores da água e da terra são assassinados com impunidade em números recordes pelos capangas de algumas das principais indústrias no centro da crise mundial da água: agronegócio, indústrias de petróleo e mineração, caçadores ilegais e madeireiros.68

Rebeliões de Extinção

O fracasso em colocar a questão do imperialismo no Antropoceno no centro de sua análise é a maior fraqueza do movimento ecológico ocidental. Muitas vezes se reconhece que os efeitos das mudanças climáticas e do cruzamento das fronteiras planetárias em geral estão tendo seus maiores impactos no Sul global, onde milhões já estão sofrendo com as mudanças climáticas. Isso está, muitas vezes, relacionado à desigualdade global e à longa história do colonialismo e do imperialismo. Também se reconhece que os efeitos prejudiciais do aquecimento global são ampliados pela desigualdade global. Finalmente, é frequentemente entendido na esquerda que a mudança climática é uma questão planetária e requer uma levante global da humanidade para superar a estrutura de poder capitalista que a está impulsionando.69 No entanto, há pouquíssima consciência, atualmente, de que o imperialismo, representando a ruptura global inerente ao sistema capitalista mundial, é uma força ativa organizada contra a revolução ecológica, buscando garantir o sistema de combustíveis fósseis e o atual regime de degradação ambiental máxima e exploração humana. O imperialismo do século XXI é, nesse sentido, a fase exterminista do capitalismo.

Tudo isso aponta para o fato de que qualquer crítica ao capitalismo que não inclua o imperialismo é insuficiente para enfrentar nossa atual crise de época. Sem dúvida, qualquer tentativa realista de enfrentar a crise do Antropoceno deve começar com uma crítica geral do capitalismo como um sistema que coloca a acumulação de capital antes de tudo. É isso que constitui a raiz do climatério planetário de hoje, necessitando de um movimento anticapitalista dedicado à sustentabilidade ecológica e à igualdade substantiva, ou seja, ao socialismo. O fato de o capitalismo ser uma ameaça à sobrevivência humana o torna obsoleto como sistema social.

No entanto, embora a crítica ao capitalismo seja o ponto de partida, a análise não pode simplesmente parar por aí; ela deve confrontar a realidade do capital monopolista financeiro generalizado que agora opera em escala mundial e a divisão profunda e sistemática do mundo em centro e periferia, Norte global e Sul global — uma divisão que só piorou com a mudança climática. É nesse contexto imperialista mais amplo que o capitalismo existe como um sistema histórico no século XXI, e é isso que deve ser combatido.

Nessas novas condições históricas não análogas, uma emergente “consciência de espécie” está surgindo rapidamente, com base na identificação com a humanidade como um todo e até mesmo com outras espécies, conforme descrito pelo famoso psicólogo Robert J. Lifton em seu livro, The Climate Swerve [O desvio climático].70 É esse senso de realidade material global compartilhada — surgindo dialeticamente ao lado de novos movimentos nacionalistas revanchistas associados à mesma crise de época — que se provou um importante fator motivador por trás do movimento britânico Extinction Rebellion [Rebelião de extinção] e das greves estudantis em toda a Europa. É cada vez mais compreendido, especialmente pelos jovens, que as nações ricas têm uma responsabilidade histórica pelas mudanças climáticas, juntamente com a maior capacidade de impedi-las, exigindo-lhes os menores sacrifícios, e que isso envolve nada menos do que o destino da Terra e da humanidade como um todo. Lifton chama a nova “consciência de espécie” de “desvio”, seguindo a filosofia de indeterminação e liberdade do grande e antigo filósofo materialista Epicuro — cujo importância do pensamento sobre o tema foi reconhecida pela primeira vez por Karl Marx.71

Mas tal desvio, focando nas necessidades da humanidade trabalhadora como um todo, se for para se concretizar, deve reconhecer que o capitalismo, em sua forma mais concreta, mais intensa e mais mortal, é o sistema mundial imperialista, e só poderá ser verdadeiramente confrontado nesses termos. Segue-se que não poderá haver uma revolução ecológica em face da atual crise existencial se essa não for anti-imperialista, extraindo seu poder da grande massa da humanidade em sofrimento. O movimento ecológico global deve, portanto, ser um movimento para a unificação dos oprimidos, emanando de inúmeras Rebeliões de Extinção, e conduzindo à primeira verdadeira Internacional dos trabalhadores e povos do mundo. Os pobres herdarão a terra, ou não haverá terra para herdar.

Notas

  1. Grupo de Trabalho do Antropoceno, “Results of Binding Vote by AWG”, Maio de 2021, 2019. Disponível em: http://quaternary.stratigraphy.org. Para uma discussão completa das questões relacionadas à datação geológica do Antropoceno, ver Jan Zalasiewicz, Colin N. Waters, Mark Williams e Colin P. Summerhayes, The Anthropocene as a Geological Time Unit: A Guide to the Scientific Evidence and Current Debate. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.
  2. V. Shantser, “The Anthropogenic System (Period)”, em Great Soviet Encyclopedia, v. 2. Nova York: Macmillan, 1973, 140; John Bellamy Foster, prefácio para Facing the Anthropocene, Ian Angus. Nova York: Monthly Review Press, 2016, 11.
  3. Clive Hamilton e Jacques Grinevald, “Was the Anthropocene Anticipated?”, Anthropocene Review, v. 2, n. 1, 2015, 67.
  4. Grupo de Trabalho do Antropoceno, “Results of Binding Vote by AWG”.
  5. Angus, Facing the Anthropocene, 44–45; J. R. McNeill, The Great Acceleration. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2016.
  6. Fred Magdoff e John Bellamy Foster, What Every Environmentalist Needs to Know About Capitalism. Nova York: Monthly Review Press, 2014, 43.
  7. A loucura da razão econômica: Marx e o capital no século XXI. Oxford: Oxford University Press, 2018.
  8. Samir Amin, Modern Imperialism, Monopoly Finance Capital, and Marx’s Law of Value. Nova York: Monthly Review Press, 2018, 110–11.
  9. Karl Marx e Friedrich Engels, Collected Works, v. 37. Nova York: International, 1975, 732–33; John Bellamy Foster e Brett Clark, “The Expropriation of Nature”, Monthly Review, v. 69, n. 10, mar. 2018, 1–27.
  10. Gyekye Tanoh, entrevista em Tricontinental: Institute for Social Research, em Resource Sovereignty: The Agenda for Africa’s Exit from the State of Plunder, Tricontinental: Institute for Social Research, Dossiê n. 16, maio 2019; Celina Della Croce, “3 Percent of Ghana’s Gold Remains in the Hands of Multinational Corporations”, Salon, 25 maio 2019.
  11. Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina. Nova York: Monthly Review Press, 1997.
  12. Existe agora uma literatura crescente sobre trocas ecológicas desiguais. Ver, por exemplo, Andrew K. Jorgenson e Brett Clark, “The Economy, Military, and Unequal Exchange Relationships in Comparative Perspective”, Social Problems, v. 56, n. 4, 2009, 621–46; John Bellamy Foster e Hannah Holleman, “The Theory of Unequal Ecological Exchange”, Journal of Peasant Studies, v. 41, n. 1–2, 2014, 199–233.
  13. Karl Marx, O Capital, v. 1. Londres: Penguin, 1976, 915.
  14. I. Lenin, Imperialismo: fase superior do capitalismo. Nova York: International, 1939, 81–82, 88.
  15. Thomas O. Wiedmann, Heinz Schandl, Manfred Lenzen, Faniel Moran, Sangwon Suh, James West e Keiichiro Kanemoto, “The Material Footprint of Nations”, Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 112, n. 20, 2015, 6271–76.
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  17. Florian Doerr, “Blue Growth and Ocean Grabbing”, Colloquium Paper n. 18, International Institute of Social Studies, International Colloquium, 4–5 fev. 2016, 1–20 ; Transnational Institute Agrarian Justice Program, The Global Ocean Grab: A Primer. Amsterdam: Transnational Institute, 2014; Nishan Degnarain e Greg Stone, “83 Countries Are More Ocean than Land”, Fórum Econômico Mundial, 16 out. 2017; Stefano B. Longo, Rebecca Clausen e Brett Clark, The Tragedy of the Commodity. New Brunswick: Rutgers University Press, 2015.
  18. ‘Ocean-Grabbing’ as Serious a Threat as ‘Land-Grabbing’ — UN Food Expert”, United Nations Special Rapporteur on the Right to Food, 30 out. 2012. Disponível em: http://srfood.org.
  19. Transnational Institute Agrarian Justice Program, The Global Ocean Grab, 7.
  20. Doerr, “Blue Growth and Ocean Grabbing”, 6, 8.
  21. Disponível em: http://trillionthtonne.org. Acesso em: 27 maio 2019. O trilionésimo de tonelada é medido em termos de toneladas métricas de carbono (não dióxido de carbono).
  22. James Hansen e Makiko Sato, “Regional Climate Change and National Responsibilities”, Environmental Research Letters, v. 11, 2016, 6; Glenn P. Peters, “From Production-Based to Consumption-Based National Emission Inventories”, Ecological Economics, v. 65, n. 1, 2008, 13–23; World Resources Institute, “6 Graphs to Explain the World’s Top 10 Emitters”, 25 nov. 2014.
  23. Sobre as negociações iniciais do clima e o fracasso do Protocolo de Kyoto, ver John Bellamy Foster, Ecology Against Capitalism. Nova York: Monthly Review Press, 2002, 13–22.
  24. Hansen e Sato, “Regional Climate Change and National Responsibilities”, 5–6; Martin Khor, “The Equitable Sharing of Atmospheric and Development Space: Summary”, artigo para UNFCCC AWG-LCA Workshop on Equity Bonn, 16 maio 2012.
  25. Mahlstein, R. Knutti, S. Solomon, e R. W. Portmann, “Early Onset of Significant Local Warming in Low Latitude Countries”, Environmental Research Letters, v. 6, 2011, 4; Sebastian Bathiany, Vasilis Dakos, Martin Scheffer e Timothy M. Lenton, “Climate Models Predict Increasing Temperature Variability in Poor Countries”, Science Advances, v. 4, n. 5, 2018, 1–10.
  26. Hansen e Saito, “Regional Climate Change and National Responsibilities”, 1, 7.
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  28. Noah S. Diffenbaugh and Marshall Burke, “Global Warming Has Increased Global Economic Inequality”, Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 116, n. 20, 2019, 9808–10.
  29. Conselho de Segurança das Nações Unidas, “Issues Facing Small Island Developing States”, 30 jul. 2015; Degnarain and Stone, “83 Countries Are More Ocean than Land”.
  30. Tony Sternberg, “Water Towers: Security Risks in a Changing Climate”, em Epicenters of Climate and Security: The New Geostrategic Landscape of the Anthropocene, ed. Caitlin E. Werrell and Francesco Femia. Washington, D.C.: Center for Climate and Security, 2017, 20–27.
  31. National Security Strategy of the United States of America, dez. 2017, 22–24.
  32. The Military Cost of Defending the Global Oil Supply”, Securing America’s Future Energy, 21 set. 2018, 9.
  33. “The Military Cost of Defending the Global Oil Supply.”
  34. National Security Strategy of the United States of America, 2017; Donald J. Trump, “Remarks by President Trump at the Unleashing American Energy Event”, 29 jun. 2017. Disponível em: http://whitehouse.gov.
  35. Susan Maret, “Climate Change and National Security Through the Lens of Key Federal Publications”, Project Censored, 8 jan. 2019; Marcus D. King e Julia Burnell, “The Weaponization of Water in a Changing Climate”, em Epicenters of Climate and Security, 37–40; Robert McLeman, “Migration and Displacement in a Changing Climate”, em Epicenters of Climate and Security, 100–107.
  36. “Blank Spots on the Map: Almost All the U.S. Army’s Secret Military Bases Across the Globe Revealed on Google and Bing”, Daily Mail, 15 dez. 2013.
  37. Peter Schwartz e Doug Randall, An Abrupt Climate Change Scenario and Its Implications for United States Security, out. 2003, 18; John Bellamy Foster, The Ecological Revolution. Nova York: Monthly Review Press, 2009, 114.
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  40. Ted Nace, Lydia Plante e James Browning, Pipeline Bubble: North America Is Betting Over $1 Trillion on a Risky Fossil Infrastructure Boom. São Francisco: Global Energy Monitor, 2019.
  41. Nace, Plante e Browing, Pipeline Bubble, 7–8.
  42. Oliver Milman, “North American Drilling Boom Threatens Big Blow to Climate Efforts, Study Shows”, Guardian, 25 abr. 2019.
  43. Milman, “North American Drilling Boom”.
  44. The Truth About Big Oil and Climate Change”, Economist, 9 fev. 2019, 9.
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  49. Richard A. Kerr, “The Greenhouse Is Making the Water-Poor Even Poorer”, Science, v. 336, n. 405, 2012, 405.
  50. Hannah Holleman, Dustbowls of Empire: Imperialism, Environmental Politics, and the Injustice of “Green” Capitalism. New Haven: Yale University Press, 2018; Hannah Holleman, “No Empires, No Dust Bowls”, Monthly Review, v. 70, n. 3 (jul-ago. 2018); Marian Corera, “The Cost of Climate Change?”, NATO Association of Canada, 26 set. 2018.
  51. Fred Pearce, “Rivers in the Sky: How Deforestation is Affecting Global Water Cycles”, Yale Environment, v. 360, 24 jul. 2018.
  52. FAO, FIDA, UNICEF, PMA e OMS, The State of Food Security and Nutrition in the World 2018: Building Climate Resilience for Food Security and Nutrition. Rome: Food and Agriculture Organization, 2018, xiii, 39.
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  66. Goodman e Dutton, “Who Controls the Tap?”.
  67. King e Burnell, “The Weaponization of Water in a Changing Climate”; Ahmed Abdulkareem, “Saudi Strikes on UNICEF Water Facility in Yemen Compounds Cholera Risk”, Mint Press, 25 jul. 2018; Martha Mundo, The Strategies of the Coalition in the Yemen War. Somerville, MA: World Peace Foundation, 2018; “About 19 Million Lack Access to Clean Water in Yemen”, Al Jazeera, 23 jan. 2019.
  68. Jonathan Watts e John Vidal, “Environmental Defenders Being Killed in Record Numbers Globally, New Research Reveals”, Guardian, 13 jul. 2017; Elaina Zachos, “Why 2017 Was the Deadliest Year for Environmental Activists”, National Geographic, 24 jul. 2018.
  69. Asad Rehman, “A Green New Deal Must Deliver Global Justice”, Red Pepper, 29 abr. 2019; Minerwa Tahir, “Why It Is Important to Connect Anti-Imperialism to Climate Action”, blog SOAS, 1 maio 2019.
  70. Robert J. Lifton, The Climate Swerve. Nova York: New Press, 2017.
  71. Cyril Bailey, “Karl Marx on Greek Atomism”, Classical Quarterly, v. 22, n. 3–4, 1928, 205–6; John Bellamy Foster, Marx’s Ecology. Nova York: Monthly Review Press, 2000, 52–53.

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